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Fiodor Dostievski

Leitura de Crime e Castigo pelo PET-Med

Março 2012

A história trata do drama existencial do protagonista Rodion Românovitch Raskólnikov, que oscila entre os dois extremos da condição humana e comete desde o ato mais vil, o assassinato da agiota Alíona Ivânovna e sua irmã, Lisavieta, até o ato mais nobre, como em uma das cenas do livro em que auxilia a desesperada e tísica Ekatierina com seus últimos 25 rublos, para promover o enterro do marido Marmieládov. O livro então analisa o ser humano por meio dos delírios e reflexões de Raskólnikov, que nos inspiram dúvidas, medos, ansiedade, angústias, ódio, compaixão e repulsa.

A complexidade de Raskolnikov, protagonista do livro, inspirou os petianos a discutir calorosamente a respeito de várias personagens que tentam decifrá-lo, como Zosimóv, o médico, Svidrigáilov, patrão de Dúnia, Razumikhin, o amigo, Dúnia, a irmã, Porfíri, o juíz do comissariado, mas apenas este último o descreve da maneira mais fiel. Certamente, o sofrimento é o grande contexto interno da personagem, revelado pela mesma quando explica sua teoria sobre pessoas ordinárias e extraordinárias ao juíz do comissariado: " O sofrimento e a dor são inerentes a uma ampla consciência e a um coração profundo. Em minha opinião os homens verdadeiramente grandes devem padecer neste mundo de uma grande dor".

Mas não é só o assassino que nos chama a atenção nesta obra prima de Dostoievski: conforme avançamos na leitura deste livro de quase 600 páginas, nos deparamos com personagens que, surpreendentemente, se mostram essenciais de uma maneira que não imaginávamos quando tomamos o primeiro contato com as mesmas, como é o caso da prostituta, filha do funcionário público Marmieladóv, a Sônia. Talvez um dos personagens mais nobres de caráter, é ela quem se torna o norte da orientação do protagonista do livro, e seu elo com a religião, fato verificado nesta passagem peculiar: "A luzinha...iluminava vagamente naquele mísero quarto, um assassino e uma prostituta, estranhamente reunidos para ler o livro eterno".

Através de uma análise minuciosa do caráter humano, o autor russo reflete por meio de seus personagens, sobre as misérias humanas, como o faz sobre a sinceridade e a lisonja, por meio de Svidrigáilov, patrão de Dúnia, irmã do protagonista, quando trabalhava na casa de Marfa Pietrovna: " Não há no mundo coisa mais difícil do que a sinceridade e mais fácil do que a lisonja. Se à sinceridade se mistura a mais pequena nota falsa, surge imediatamente a dissonância e, atrás dela...o escândalo. Ao passo que a adulação, ainda que seja falsa até a última nota, torna-se simpática e ouve-se com satisfação".

Entre tantas outras dissecações das profundezas da alma humana, o adjetivo que talvez melhor qualifique o que os petianos sentiram ao terminarem de ler a obra deste existencialista foi o deslumbramento, principalmente por termos sidos despidos de tantos trajes e máscaras a cada página lida desta grande obra. Nos libertamos de todo o sofrimento deste drama existencialista nas últimas páginas, quando "em vez da dialética, surge a vida". Vida ideal? Não, mas talvez uma em que não sejamos mais como deficientes que necessitam de bengalas.

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